Um espaço para partilhar pensamentos, opiniões, gostos e desgostos nas palavras de uma moçambicana descobrindo-se e descobrindo os dias que se sucedem...

sábado, 1 de junho de 2013

O amor não é suficiente

Quantas vezes nos apegamos a coisas que não nos servem mais, e até que nos fazem mal? Também o fazemos com pessoas e com relações. E, neste caso, o resultado é normalmente mais prejudicial...
O que leva uma mulher a ficar numa relação com um homem que ama profundamente mas que sabe que nunca a escolherá? O que faz um homem manter-se numa relação que sabe que acabou no momento em que ela deixou de gostar de andar de mão dada com ele?
O que nos faz permanecer numa relação que destrói o melhor de nós?
Durante boa parte da minha vida até recentemente pensei que o amor era tudo o que bastava para unir duas pessoas e, sendo verdadeiro, resistir a todas as forças contrárias.
Não, o amor entre duas pessoas nem sempre é suficiente. Por mais forte que seja. O que torna a perda mais difícil, e a possibilidade do desapego ainda mais assustadora. A sensação de nos desapegarmos que um sentimento e de uma pessoa que estão impregnados em cada poro do nosso corpo pode parecer insuportável... O medo de nunca mais encontrar a mesma cumplicidade, de nunca mais olharmos para alguém e termos a certeza de que encontrámos “a nossa pessoa”...
Mas resistir ao desapego é certamente pior.
Conheci uma senhora que após mais de 30 anos separada do marido que a deixara por outro amor ainda não tinha superado aquela perda. A cada pessoa com quem conversava mais do que alguns minutos logo contava a história sobre como o ex-marido a havia trocado por outra mulher. Consumida por ressentimento. Sempre desolada. Sempre vazia de outro sentimento. Como se aquela dor antiga fosse a única coisa que ainda a mantinha de pé.
Por que tantas vezes nos apegamos a roupa que nunca mais nos vai servir, a um emprego que nos suga a motivação, ou a sentimentos e a relações que nos despem de esperança?


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Gosto...


Gosto de te ouvir falar. 
Gosto quando falas do teu dia, de tudo, de nada, do que te fez rir e de quem te irritou, do que gostas e do que sonhas, do que já foste e do que sonhas ser, do custo de vida e da subida da renda, da música que ouviste ontem, de quem já amaste e do que já deixaste para trás, do que honras e o que desprezas, do que aprendeste e dos erros que cometeste, do que gostas de comer e de como fumas mais do que gostavas...
E quando já não estás, gosto de como a tua voz fica comigo. Gosto de como ela me faz sorrir inusitadamente, gosto de como me traz de volta as palavras que falaste. Gosto desse som que deixas comigo quando te vais.
Gosto das palavras, portanto - e do que elas dizem, é claro. Mas é a tua voz o que mais gosto quando falas. 

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Anti "X" – Sobrevivi-te!

Uma vida numa bolha. De um lado os outros, o mundo “real”; e do outro lado eu, sozinha independentemente da companhia. Consigo vê-los, até tocá-los com os dedos e sentir o seu odor. Mas ninguém me descobre do outro lado, para além da bolha. Ninguém me ouve gritar. Porque grito em absoluto silêncio. Porque grito, mas no fundo não quero gritar.
Chamas isto de amor. E eu acredito. Invento desculpas para ti. Pinto-te em cores e formas que não existem, não existiram nunca além da minha imaginação. Mas preciso de acreditar – que mais me resta?
Como pode isto estar a acontecer comigo? Logo a mim?!
A culpa só pode ser minha. Estou certa de que fiz alguma coisa errada, em algum momento falei com alguém com quem não querias que falasse, ou talvez não estivesse em casa quando tocaste à campaínha, ou então foi porque sorri quando aquele rapaz elogiou o meu novo corte de cabelo. 
As regras que devo obedecer são muitas. Esqueço-me por vezes. Outras surgem de forma tão inesperada que não tenho como me antecipar. E depois há aquelas que simplesmente não consigo obedecer… apesar de conhecer as consequências da minha desobediência.
Ninguém me preparou para isto. Esqueceram-se de mencionar esta parte na escola. Mas se tu dizes que o amor é assim mesmo, então deve ser.
Eu é que tenho que aprender que quando me atiras aquelas palavras duras - cruéis mesmo – devo ficar agradecida por me amares. Idiotice a minha ainda não ter compreendido que quando deixas cair a mão pesada no meu corpo, não fazes mais do que me provar a sorte que tenho por fazeres parte da minha vida.
Coitado de ti…
Coitado de ti…
Podias ter-me danificado para sempre. Mas eras demasiado pequeno para isso. Eu simplesmente levei demasiado tempo a percebê-lo.
Um dia ainda to direi. Ou serás também demasiado pequeno para isso? Ainda não decidi.
Uma coisa é certa: sobrevivi-te. Sou mais forte depois de ti.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"X" - Labirinto

“Quando chegámos à discoteca, alguns amigos passaram por nós. O Manuel disse qualquer coisa que não compreendi e eu fui ter com ele ao carro. Era só para se despedir porque afinal bazava hoje para os E.U.A.
Entretanto, o X já ia longe. Quando tentei falar com ele, mandou-me embora, tratou-me mal, até me bateu na testa. Claro que acabei por chorar e toda a gente viu.
Quando voltámos os dois para casa, ele recomeçou a discutir comigo, bateu-me na testa e nas costas, atirou-me coisas… Eu tive uma falta de ar muito estranha, por causa da pancada nas costas, e o X pensou que era fingimento, de modo que não me ajudou.
Esta manhã começou a brincar comigo e acabámos por ficar fixes.
Mas estas reacções dele deixam-me perplexa. Eu não entendo como é que ele é capaz de me dizer certas coisas, de me bater (mesmo ao de leve), de mostrar tanta raiva por mim. Sabes, eu tenho muito medo do X quando ele se zanga. Ele já me magoou outras vezes e vê-se que lhe custa controlar-se a ele próprio quando bebe e se chateia.
Por outro lado, acho horrível ter medo dele, a pessoa que amo e que quero comigo, e isto faz-me pensar no que o X me fará no dia em que acontecer alguma coisa mesmo grave. Sim, porque estas zangas acontecem por coisas que no fundo não têm importância nenhuma. Isto é horrível!
Por outro lado, acho uma estupidez que eu tenha esta idade e já viva este tipo de problema. O que o X me fez estas vezes todas já é mais do que suficiente para eu não o querer mais à minha frente, para não o respeitar de todo.
Mas eu continuo a amá-lo. Tenho que encontrar uma maneira de acalmar esta reacções do X. E não é por fazer tudo o que ele quer para que não se chateie. Isso não vai mudar a maneira dele ser. Ele tem é que conseguir controlar-se. E tenho que ser eu a conseguir isso!”

Maura Quatorze (aos 17 anos)
Diário de 20 de Agosto de 1997

segunda-feira, 19 de julho de 2010

É curioso isto das expectativas. Tão depressa nos elevam estoicamente a um êxtase da qual não esperamos nunca descer, quão intempestivamente nos arremessam ao chão como chumbo lançado das alturas.
A certo ponto da minha vida passei a esperar o pior das pessoas. Certamente não aconteceu num único momento.
Quando é que começamos a poder dizer a alguém que dela esperamos determinada atitude ou palavra? Quando começamos a ter esse direito? E com que certeza podemos dizer que conhecemos realmente alguém?
A história está repleta de episódios de pessoas que cometeram erros de julgamento fatais. Cegas pela expectativa. Esperaram algo muito melhor do que aquilo que receberam.
É terrível ter expectativas, por vezes. Acho que preferia viver sem elas. Não sei se a subida compensa a queda, por vezes.
Alguém pode afirmar com confiança que ultrapassou a desilusão de ver cair por terra uma esperança alimentada a medo, mas ainda assim carinhosamente, sem antes mergulhar fundo? Sem perguntar porquê? Sem tentar destrinçar o momento exacto em algo se quebrou? Sem querer desesperadamente fugir à insanidade a que conduz a dúvida perante a injustiça?
Defendi-me contra expectativas. Fiz de contas que não me importava.
Mas há encontros que nos apanham em contratempo, há pessoas que se nos revelam como memórias antigas de algo que esteve sempre ali connosco. Perdemos o chão. Enchemo-nos de coragem e fingimos que as bofetadas do passado foram apenas “azares”. E deixamos crescer a expectativa. Desta vez vale a pena, repetimos em murmúrio…
Assim me distraí um dia. Nesse dia acreditei. Acreditei mesmo. Como só se acredita num amigo de vidas passadas e futuras.
Valeu a pena? Não sei...


Fotografia de MAura Quatorze - Baía de Inhambane

terça-feira, 22 de junho de 2010

No chão... Sim, no chão! Ou em qualquer outro lugar... a urgência não costuma ser exigente :0)


O Chão é Cama para o Amor Urgente
O chão é cama para o amor urgente,
amor que não espera ir para a cama.
Sobre tapete ou duro piso, a gente
compõe de corpo e corpo a húmida trama.

E para repousar do amor, vamos à cama.

Carlos Drummond de Andrade, in 'O Amor Natural'

segunda-feira, 21 de junho de 2010







Que prazer olhar para as malas fitando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
(…)
É a véspera de não partir nunca!
Álvaro de Campos, in "Poemas"


Lembro-me de uma vez em miúda deixar a minha tia querida muito desiludida ao errar a palavra "Portugal" num ditado - escrevera "Portugual". Há muito que aprendera a soletrar correctamente o nome do meu país: M-o-ç-a-m-b-i-q-u-e.
Desde sempre que vivo dividida entre dois mundos.
Costumava ir todos os anos a Portugal, nas férias. Já conhecia o país relativamente bem. Até vivi lá, fui à escola lá durante parte da minha infância. Mas sempre houve algo de diferente entre mim e quase todos os meus colegas, as minhas vizinhas: eu vinha de outro país.
Alguns anos mais tarde regressei àquele país, desta vez para me iniciar  na faculdade. Durante os cinco anos em que vivi em Lisboa vivenciei o mesmo fenómeno por que passam tantos outros que abandonam o seu país de origem: o nacionalismo exarcebou-se. Em terras de outro parece ainda mais importante defendermos a nossa bandeira a todo o custo; de certa forma sentimo-nos representantes de uma soberania distante.
Num de muitos devaneios melancólicos com o meu pai, manifestei-lhe o quanto gostaria de transportar algumas coisas de Portugal para Moçambique, como os concertos, bares e discotecas, transportes minimamente organizados e por aí… E ele disse-me algo que nunca mais poderia esquecer: uma vez que experimentas a vida num segundo país, nunca mais te sentes completa em lado nenhum.
Na altura pareceu-me um pouco descabido: como era, então, possível viver, sem se sentir completo?
Mas o tempo ajuda-nos a aceitar e até a compreender o que antes parecia absurdo.
De regresso a Moçambique e iniciando uma carreira profissional no jornalismo nacional deparei-me com outra dúvida. Pela primeira vez, entendi algo que me escapara durante tantos anos - para muitos eu nunca seria considerada uma “verdadeira” moçambicana no meu próprio país. Porque fui entregue num pacote diferente da maioria, com a pele mais clara.
O “descabido” deixou-me novamente um gosto amargo na boca. Absurdo.
Então de onde sou eu? Se não sou de cá nem de lá? Lá não me revejo e cá não se revêem em mim.
Também desta vez o meu instinto foi defender uma bandeira que também é minha. Lutar. Lutar. Lutar para iluminar. E durante algum tempo cansei-me e frustrei-me.
Mas parei quando percebi que há coisas que temos que aceitar mesmo como elas são. Quando finalmente compreendi que estas coisas da pátria são muito mais complicadas do que um mapa escrito a uma única cor. Compreendi que “pátria” é mesmo aquela que cada um de nós escolhe para si. E o que está entranhado em nós ninguém nos pode tirar. 

sábado, 19 de junho de 2010

Quando é que percebemos que o amor não é um conto de fadas?
Como tantas outras crianças privilegiadas, eu cresci a ouvir histórias de encantar. E assim que comecei a ler por mim mesma, li essas mesmas histórias, ou outras semelhantes. O enredo pouco se altera: um amor proibido em que os amantes devem ultrapassar inimagináveis barreiras antes de viverem felizes para sempre; ou então era uma vez uma donzela em sofrimento que é salva pelo perfeito princípe – e vivem felizes para sempre.
Onde os dignos autores destas histórias da carochinha iam buscar inspiração, não sei. Pois eu ainda não conheci amor que tenha sido feliz para sempre.
Já acreditei piamente que um dia conheceria a minha famosa cara-metade. Um homem com quem soubesse, num único olhar, que iria ficar para o resto da minha vida.
Será que desaprendemos de amar?
As histórias que me rodeiam hoje em dia são histórias de separação, de engano e de mentira. Não vejo donzelas pagando com a vida em nome de um amor, e muito menos princípes renunciando ao trono em troca do amor de uma vida.
A relação monogâmica é uma piada. E quantos entram ainda numa relação a pensar que será para sempre?... Pelo menos não com uma única pessoa.
Ainda hoje ouvia alguém dizer: na casa criam-se as bases, lá fora vai-se “viver”.
Vivo numa sociedade igual à maioria delas por este mundo fora, onde as pessoas se casam porque é assim que deve ser, onde mentem aos parceiros ao lado de quem adormecem todos os dias porque a vida é mesmo assim.
Acredito que alguns não nascem mesmo para a monogamia. Quantas vezes a abraçamos como modelo de vida socialmente correcto, acabando por nos estrangularmos a nós mesmos num emaranhado de mentiras e de “faz de conta”... Em nome de uma boa imagem, da qual nos esquecemos assim que a perspectiva da impunidade e do segredo nos sorriem.
Não digo que a maioria das pessoas não queiram ser monogâmicas, pelo menos em determinados períodos. Especialmente, queremos que nos sejam fieis.

sábado, 29 de maio de 2010

Acreditava profundamente que agora, aos 30 anos, seria capaz de entrar num cabeleireiro e sair de lá com mais de 10 cm de cabelo.
Há cerca de uma década que vivo com este dilema: sempre que me sento numa cadeira de cabeleireiro e oiço a tesoura desfazendo em pedaços o esforço de longos meses a deixar o cabelo crescer, não consigo parar. Sou incapaz de cortar "uns dedos" - uma vez iniciada a tosquia, não consigo pará-la!
Preocupa-me que aos 30 anos ainda não consiga conceber a ideia de um corte de cabelo que exija uma manutenção que ultrapasse uma boa lavagem e com alguma sorte, uma boa escovadela...
Pelo menos durante os próximos meses não volto a precisar nem de escova nem de pente!