Um espaço para partilhar pensamentos, opiniões, gostos e desgostos nas palavras de uma moçambicana descobrindo-se e descobrindo os dias que se sucedem...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Anti "X" – Sobrevivi-te!

Uma vida numa bolha. De um lado os outros, o mundo “real”; e do outro lado eu, sozinha independentemente da companhia. Consigo vê-los, até tocá-los com os dedos e sentir o seu odor. Mas ninguém me descobre do outro lado, para além da bolha. Ninguém me ouve gritar. Porque grito em absoluto silêncio. Porque grito, mas no fundo não quero gritar.
Chamas isto de amor. E eu acredito. Invento desculpas para ti. Pinto-te em cores e formas que não existem, não existiram nunca além da minha imaginação. Mas preciso de acreditar – que mais me resta?
Como pode isto estar a acontecer comigo? Logo a mim?!
A culpa só pode ser minha. Estou certa de que fiz alguma coisa errada, em algum momento falei com alguém com quem não querias que falasse, ou talvez não estivesse em casa quando tocaste à campaínha, ou então foi porque sorri quando aquele rapaz elogiou o meu novo corte de cabelo. 
As regras que devo obedecer são muitas. Esqueço-me por vezes. Outras surgem de forma tão inesperada que não tenho como me antecipar. E depois há aquelas que simplesmente não consigo obedecer… apesar de conhecer as consequências da minha desobediência.
Ninguém me preparou para isto. Esqueceram-se de mencionar esta parte na escola. Mas se tu dizes que o amor é assim mesmo, então deve ser.
Eu é que tenho que aprender que quando me atiras aquelas palavras duras - cruéis mesmo – devo ficar agradecida por me amares. Idiotice a minha ainda não ter compreendido que quando deixas cair a mão pesada no meu corpo, não fazes mais do que me provar a sorte que tenho por fazeres parte da minha vida.
Coitado de ti…
Coitado de ti…
Podias ter-me danificado para sempre. Mas eras demasiado pequeno para isso. Eu simplesmente levei demasiado tempo a percebê-lo.
Um dia ainda to direi. Ou serás também demasiado pequeno para isso? Ainda não decidi.
Uma coisa é certa: sobrevivi-te. Sou mais forte depois de ti.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"X" - Labirinto

“Quando chegámos à discoteca, alguns amigos passaram por nós. O Manuel disse qualquer coisa que não compreendi e eu fui ter com ele ao carro. Era só para se despedir porque afinal bazava hoje para os E.U.A.
Entretanto, o X já ia longe. Quando tentei falar com ele, mandou-me embora, tratou-me mal, até me bateu na testa. Claro que acabei por chorar e toda a gente viu.
Quando voltámos os dois para casa, ele recomeçou a discutir comigo, bateu-me na testa e nas costas, atirou-me coisas… Eu tive uma falta de ar muito estranha, por causa da pancada nas costas, e o X pensou que era fingimento, de modo que não me ajudou.
Esta manhã começou a brincar comigo e acabámos por ficar fixes.
Mas estas reacções dele deixam-me perplexa. Eu não entendo como é que ele é capaz de me dizer certas coisas, de me bater (mesmo ao de leve), de mostrar tanta raiva por mim. Sabes, eu tenho muito medo do X quando ele se zanga. Ele já me magoou outras vezes e vê-se que lhe custa controlar-se a ele próprio quando bebe e se chateia.
Por outro lado, acho horrível ter medo dele, a pessoa que amo e que quero comigo, e isto faz-me pensar no que o X me fará no dia em que acontecer alguma coisa mesmo grave. Sim, porque estas zangas acontecem por coisas que no fundo não têm importância nenhuma. Isto é horrível!
Por outro lado, acho uma estupidez que eu tenha esta idade e já viva este tipo de problema. O que o X me fez estas vezes todas já é mais do que suficiente para eu não o querer mais à minha frente, para não o respeitar de todo.
Mas eu continuo a amá-lo. Tenho que encontrar uma maneira de acalmar esta reacções do X. E não é por fazer tudo o que ele quer para que não se chateie. Isso não vai mudar a maneira dele ser. Ele tem é que conseguir controlar-se. E tenho que ser eu a conseguir isso!”

Maura Quatorze (aos 17 anos)
Diário de 20 de Agosto de 1997